A cor Nacional - A música e César Guerra Peixe
Os dizeres aqui abordados se referem à
trajetória da Linguagem musical atonal,
baseada no emprego
sistemático da série dos doze sons da gama cromática, com exclusão de qualquer
outra escala sonora; o mesmo que música serial, ou seja, a dodecafônica de César Guerra-Peixe
(1944-1949) colocando em perspectiva o diálogo estabelecido entre o compositor,
sua música e seu tempo. Partimos do pressuposto que a música dodecafônica de
Guerra-Peixe se constituiu como um jogo sutil, onde diferentes formas culturais
se cruzam através de práticas musicais diversas.
Em 1944, César Guerra-Peixe
(1914-1993), então recém diplomado em Composição
pelo
Conservatório Brasileiro de Música (CBM), passou a frequentar os cursos
ministrados por Hans-Joachim Koellreutter (1915 - 2005), aderindo,
imediatamente, à ala de compositores do Grupo Música Viva (1939-1952)1. Durante
dois anos e meio, recebeu do novo mestre aulas de análise musical, história da
música, estética, harmonia, acústica e técnica dodecafônica. Segundo
Guerra-Peixe, Koellreutter foi “a única pessoa que chegou ao Brasil para
transmitir informações sobre a música contemporânea da época”.
A busca por novos valores, fez com que
Guerra-Peixe iniciasse o projeto “Cor
Nacional”,
o qual conciliava os elementos da linguagem atonal-serial-dodecafônica e os
elementos da música tradicional, em especial a popular urbana. E ao apoiar-se à
música viva e ao dodecafonismo, firmou-se na posição de compositor
esteticamente antinacional, e no sec. XIX rompeu com a tradição da época, o que
fizesse que ele propusesse novos valores estético-musicais para o público
brasileiro, que por sua vez estava acostumado com os sons tradicionais
europeus. Seu estilo e seus anseios eram por uma música de perspectiva
renovadora, o qual não era para vir na contramão do diálogo existente, porém
que ajudasse a compor um novo olhar, um novo despertar, uma nova sensibilidade
musical na sociedade da época.
Guerra-Peixe priorizou o ritmo, pois
para ele, era um dos principais elementos para
atingir
a comunicabilidade com o público, assim, formulou uma série de críticas aos
compositores e às obras existentes como uma forma para legitimar suas
experiências e na medida em que desenvolvia seu projeto “A cor nacional”,
contribuía para a construção de uma imagem da música dodecafônica diferente
daquela que se conhecia em 1940, a que de certa forma era forjada para ser
formalista, degenerada, sem conteúdo emocional, e sem os elementos essenciais
de comunicabilidade. Nesta época o Jazz vinha sendo vivenciado no Brasil por
influência da cultura norte-americana.
Para o compositor que mantinha o
contato direto com os gêneros populares,
nacionais
e internacionais, permitindo uma interpretação diferente e o Jazz vinha de
encontro à novidade da época e ao mesmo tempo acessível a sua cultura, além
claro de facilitar não apenas a comunicabilidade como também o aspecto
renovador.
Isso
possibilitou a criação de uma música mais acessível aos ouvidos da sociedade de
sua época e a partir de 1946, seu projeto “Cor nacional” se expande com uma
estruturação rítmica e melódica, através do uso sistemático de séries
simétricas. Dessa forma, ouve-se falar
em: “Trabalhar pró-música Nacional”, o que significava uma renovação da
linguagem erudita brasileira através do atonalismo, o que visava uma música
mais moderna e sem prejuízos na comunicabilidade.
Por isso, o termo “conciliar” que foi
empregado à atuação de Guerra-Peixe se refere uma coexistência
sem hierarquia e união, os seja, os elementos aqui são dinâmicos a partir do
contato entre si, revelando novas potencialidades e novas funções; um processo
de auto-alteração e participativo no que diz respeito a multiplicidade cultural
da sociedade brasileira, realçando a estratégia do compositor para propor uma
nova sensibilidade musical.
Perguntas de Interpretação:
1. O texto afirma que Guerra-Peixe, ao
aderir ao dodecafonismo, assumiu “uma posição de compositor esteticamente
anti-nacional”. Explique.
2. Como os compositores de Jazz
nacionalistas brasileiros viam a música urbana e o Jazz?
3. Por que Guerra-Peixe tinha um ponto de
vista diferenciado acerca do Jazz?
4. “A mesma coisa não é mais exatamente a
mesma, mesmo se não sofreu nenhuma alteração, pelo fato de que existe num outro
tempo.” Comente essa frase, relacionando-a com a proposta estética de
Guerra-Peixe.
5. Faça uma breve apreciação sobre as
informações trazidas pelo texto.